Navegação - O guia de viagens das nossas visitas
A navegação e os menús não são um assunto técnico. Não estão confinados ao mundo das Tecnologias de Informação, mas são usados na vida real. A navegação é um assunto de interacção humana. Os seres humanos com todos as suas nuances e problemas necessitam e usam-nos. A navegação bem sucedida importa-se com as necessidades dos visitantes, e não com a promoção de uma técnica ou da estrutura da organização. O que é que acharemos mais útil na nossa Junta de Freguesia: um índices das repartições ou uma lista de funcionários?
Exemplos da vida real - manter as coisas simples
O sucesso da navegação num dispositivo depende largamente de quão fácil é usado. Em qualquer momento os visitantes devem ser capazes de encontrar:
- Onde estão
- Onde podem encontrar outras coisas
- Onde podem encontrar ajuda no caso de se perderem
Exemplos reais passam-se por exemplo nos elevadores e escadas nos centros comerciais.
- À entrada do centro uma lista dos andares indica o que pode encontrar neles.
- Muitos deles apresentam informação adicional como, casas de banho, extintores, rotas de evacuação, meios de acessibilidade para alcançar os restantes andares (elevadores, rampas para cadeiras de rodas, escadas rolantes).
- Os melhores centros comerciais apresentam ainda sinais adicionais para mapas detalhados dos vários pisos.
Após subir uma escada rolante encontramos outro sinal, que descreve o que pode ser encontrado nesse piso e ponde se podem encontrar os quiosques de informações, telefones, casas de banho, etc.
Algumas vezes esses sinais são mapas, acompanhados de uma lista de todas as lojas disponíveis no piso. Normalmente do outro lado ficará uma lista de todos os pisos com indicações realçadas sobre o piso em que nos encontramos.
Este tipo de navegação funciona e os centros comerciais menos avançados tratam de copiar as boas práticas dos mais bem sucedidos. Esses centros comerciais são bem sucedidos e os lojistas também pois a navegação encaminha-lhes os visitantes.
Navegação de Website - Porquê torná-la mais complexa?
A beleza desta actuação é a sua simplicidade. Não esmagamos o visitante com opções mas damos-lhes o que necessitam num determinado ponto da sua visita. No caso de desejarem mais informação podem consultar os mapas detalhados dos pisos e encontrar o que desejam.
Eis algumas traduções entre o mundo real e um web site:
- Exemplo vida real
- Equivalente em web site
- Lista de todos os pisos
- Navegação principal
- Lista de todos os pisos com informação do que se pode encontrar em cada um
- Página inicial
- Mapa detalhado dos pisos
- Mapa do sítio
- Mapa detalhado e lista do piso
- Navegação secção
- Informação sobre cadeiras de rodas e elevadores
- Declaração de acessibilidade
- Quiosques informativos
- Contactos e FAQ
A verdadeira natureza da web e as máquinas de indexação/busca permitem aos visitantes entrarem nos nossos sítios em qualquer "piso" e com qualquer tecnologia.
Por isso é complicado usar uma navegação que precisa explicação ou que dependa de determinada tecnologia. Mesmo o teste da disponibilidade desta tecnologia na página inicial não significa que os visitantes não fiquem bloqueados numa página - podem vir de um marcador de livro, de uma ligação ou de uma lista de resultados de busca de um motor de busca.
A outra face da moeda do argumento do "manter as coisas simples" são os clientes: muitos deles gostam de navegação bem feita e levam e julgam o seu ambiente técnico como o padrão na web.
Os novos visitantes e a sua experiência
Descobir a diversidade de visitantes num centro comercial é muito fácil. Funcionários de lojas bem treinados, funcionários de retaguarda e seguranças podem aperceber-se das necessidades das pessoas:
- ajuda especial, digamos uma cadeira de rodas,
- permitir-lhe que levem o seu cão de guia,
- tradução de etiquetas,
- informação detalhada dos produtos,
- orientação na selecção de um produto,
- ajudar alguém a descansar e respirar melhor.
Na web não sabemos nada sobre os nossos visitantes.
Os nossos visitantes - pessoas de que dependemos para sobreviver, para lerem a nossa sageza ou tomarem parte nas nossas experiências - podem:
- Terem dificuldades de visão e necessitarem de tamanhos de tipos de letra muito grandes, com fortes contrastes e navegação fácil de encontrar
- Cegos que usem leitores de ecrã para lhes dizerem o que se passa
- Não serem capazes de usar um rato de forma adequada
- Com dificuldades para utilização de um teclado
- Dependerem de acesso por um comutador (um pedal operado pelo pé, um sensor operado pelo piscar dos olhos, um capacete com extensão para primir teclas)
- Dependente de reconhecimento vocal
- Surdo ou com dificuldades auditivas
- Algumas mais ou combinações das dificuldades acima descritas
Melhorias por capacidade ou por decisão
Podemos usar tecnologia para ler-mos alguns dos parâmetros do navegador contudo essa informação não nos ajuda muito:
- A resolução do ecrã não equivale ao espaço disponível para o navegador - os utilizadores podem usar programas de ampliação ou um tamanho de tipo de letra grande, e não por sua opção mas porque precisam.
- A disponibilidade de um plug-in não significa que o visitante possa tirar partido de um interface de utilizador rico dado por essa tecnologia, um utilizador cego pode ter o seu leitor de ecrã com Flash activado (pois é uma boa ferramenta para streams de áudio), mas terá dificuldade de usar o interface de pegar e arrastar do Flash via um leitor de ecrã.
- A disponibilidade de scripting não significa que o agente utilizador (navegador) possa de facto reproduzir as alterações na página. Os nossos scripts podem esconder coisas, mas o utilizador pode não ser capaz de as voltar a descobrir
- A língua apresentada pelo agente utilizador não quer dizer que o visitante fale essa língua, pode ser um computador da organização onde trabalhe ou um terminal público.
Interagimos com seres humanos não com a tecnologia, e assim a ideia de ser capaz de predizer o que se passa por meios tecnológicos está condenada à partida.
Sabemos o que devemos fazer - gostariamos de usar uma navegação fácil, e gastar o tempo adequado na disposição e nas funções de fundo e tornar o site bonito e fácil de manter.
Contudo, não o fazemos, em vez disso gastamos demasiado tempo a conceber e desenvolver uma implementação técnica da navegação e depois ficamos sem tempo nem orçamento quando é necessário limpar o código e escrever documentação de manutenção.
As razões são muitas:
- Os nossos clientes viram navegação inacessível em sites dos concorrentes e gostaram dela
- Os clientes não se importam ou não conhecem o impacto de navegação inacessível
- Os programadores/designers (nós) não se importam ou não conhecem o impacto de navegação inacessível
- A navegação inacessível dá a impressão de manutenção fácil (só um JavaScript incluido!)
- É tentador reinventar a roda (houve um americano que o ano passado conseguir patenteá-la). Como programadores e designers uma das nossas linhas de orientação é fazer as coisas melhores. Com frequência falhamos o alvo.
- Alguma navegação inacessível tem um alto benefício para o "utilizador médio" - seja ele quem for.
Esta última razão é aquela que nos deve fazer pensar. Se a navegação é muito utilizável e se facilita muito a alguns, porque não torná-la uma opção para esses a obterem?
A via rápida é a melhor?
Por exemplo a navegação de menús descendentes multinível é provavelmente a navegação existente que ajuda muito alguns.
Este tipo de navegação é muito boa quando:
- Os visitantes têm um navegador decente ou JavaScript activado
- Os visitantes têm um rato ou a navegação com o teclado está adequadamente disponível
- Os visitantes têm espaço de ecrã à sua disposição suficiente - visto que rolar o conteúdo desfaz o menú.
- Os visitantes têm coordenação mão/olhos adequada e podem ler tipos de letra com tamanhos pequenos.
Muitos pressupostos foram feitos. A tecnologia não pode ajudar na maior parte destes problemas. No campo de ampliarmos os tipo de letra pode um problema que podemos não reparar quando se desenvolve este tipo de navegação.
Os utilizadores de teclado terão que fazer tabulação ao longo das ligações de cada vez que carregem uma destas páginas
Deixar a escolha ao visitante
Visto não haver nenhum modo de predizer as capacidades dos visitantes, a opção mais fácil é deixar tal à sua escolha. O site obtem uma navegação fácil e lógica que só mostra as opções necessárias e que oferece uma checkbox ou um botão com a indicação de "navegação melhorada" com uma ligação "o que é que é isto" explicando do que se trata.
Uma vez escolhida, a opção é guardada num cookie ou no perfil do visitante e não há necessidade da voltar a tomar. Se a funcionalidade que necessitamos depende de uma tecnologia como o Flash ou scripting, o botão pode ser gerado via essa funcionalidade, e assim não aborrecer quem não tenha essa opção logo desde o início.
Linhas de orientação fundamentais para uma navegação acessível
Seguidamente apresento algumas linhas de orientação que o podem ajudar a determinar se a nossa navegação tem alguma probabilidade de ser acessível ou não. Sempre que tivermos de dizer não há um problema.
- Se o scripting e os estilos não estiverem disponíveis
- a navegação fica claramente visível e compreensível?
- a secção actual é óbvia?
- a quantidade de ligações disponíveis é fácil de manipular via teclado e são necessárias no contexto actual?
- Se o scripting e os estilos estiverem disponíveis
- a navegação ainda fica utilizável via teclado?
- o visitante tem que tabular através de várias ligações invisíveis?
- pode a navegação ser redimensionada no navegador sem sobreposição?
- a navegação depende de um determinado espaço disponível?
- Qualquer destas situações com as outras duas combinações(Scripting on / CSS off, e vice-versa)
- Há contraste suficiente entre o fundo e aquilo que fica por cima da navegação?
- Todas as ligações fazem sentido sem contexto (alguma da tecnologia de auxílio dá as ligações das páginas e os cabeçalhos como listas para facilitarem a navegação)?
- Todas as ligações com o mesmo palavreado apontam para a mesma página?
- Os nomes das ligações são fáceis de compreender?
Navegação como ferramenta
A navegação é um dos mais importantes componentes de um site. Claro que a parte mais importante é o próprio conteúdo. Se a nossa navegação prende a atenção dos visitantes e os destrai do conteúdo então falhou a sua finalidade. O conteúdo deve determinar a navegação, não ao contrário.
É fácil esquecer este facto, a navegação é uma das poucas coisas que nós os programadores e designers da web podemos brincar. É da nossa responsabilidade dizer ao cliente que o conteúdo é aquilo que as pessoas procuram, e nos visitam, e não pela navegação espectacular que exista. As melhores navegações são aquelas que não nos lembramos.
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