Devo admitir que quando concordo contigo simplesmente marco o teu texto como sendo do meu agrado é raro fazê-lo em público. Estive, no Texas várias vezes e tenho familiares americanos. Não considero os EUA o Demo nem Portugal o Paraíso, não tenho visões maniqueistas dos países e só de um número reduzido de pessoas. Não consigo encontrar nada de bom num Pol Pot ou noutras pessoas com iguais qualificações. Dito estes preliminares passemos à substância.
Aquilo que dizes é que aí as pessoas participam, as pessoas agem, as pessoas conhecem, são informadas e pelos vistos querem ser informadas, sabem e querem saber, por isso é que há notícias relativas aos temas que indicas.
Aquilo em que discordo de ti é que tu achas que já não vale a pena mudar as coisas cá, já não vale a pena pensar Portugal, já só vale atirarmos aos cães que nos governam ou fugir para outras paisagens. «Os cães que nos governam» não é uma expressão tua mas parece-me que ilustra o teu pensamento, esqueces contudo que são um mero espelho de nós próprios.
O que me aborrece é que pareces estar de acordo com aqueles que lançam bitaites sem qualquer sustentação, que não estudam os dossiers sobre os quais se prenunciam, que têm opiniões sem fundamento, sem um mínimo de reflexão sobre os problemas.
Se a tua crítica ao orçamento da assembleia fosse há esta e esta alínea opaca eu poderia concordar contigo, talvez a produção de um site pela própria assembleia para os eleitores poderem acompanhar a execução do orçamento não fosse má ideia, com os dados em bruto, depois algumas entidades da sociedade civil poderiam fazer apreciações com dados sobre essa execução, sobre o seu conteúdo intrínseco, etc. Se fores ao sítio da Assembleia da Republica irias ver que por exemplo o último parecer do Tribunal de Contas refere-se a 2005. Se não conseguem validar as contas em prazos úteis deixem que todos as vejam. O relatório de conta de 2009 claro está ainda não foi produzido.
Quando tu num post anterior achavas o custo da assembleia da republica muito elevado aquilo que fiz foi verificar os custos de uma série de parlamentos. Disse-te ainda que para mim era mais importante que produzisse boas leis do que fosse barato suponho que subscrevas o mesmo, mesmo que não concordemos sobre quais seriam as tais das boas leis.
Eu quando accionista de alguma empresa prefiro que a sua administração seja bem paga e produza resultados do que seja mal paga e leve a empresa à falência e, tal é também válido para o meu País, admito que não sendo accionista de referência em nenhuma quando acho que a empresa está mal administrada simplesmente vendo a minha participação, no meu país acho que todos e cada um de nós somos accionistas de referência e não nos devemos deixar intimidar por qualquer asno a quem tenhamos anteriormente dado emprego, acho que os nossos governantes são isso mesmo abaixo de sopeiras, são para ser despedidos sem pré-aviso se fizerem em nossa opinião, merda.
Quanto aos referendos, se as pessoas não vão às reuniões onde nalguns casos podem participar (assembleias municipais), nem se preocupam minimamente em saber o que lá se passa, achas mesmo que vão participar em referendos? Se os referendos que houve até agora servem de amostra iriamos manter-nos na mesma, pois não me lembro de referendos com participações significativas, os suiços que os usam têm participações maiores nos seus referendos que nós em algumas das nossas eleições.
Mais, os referendos não serviriam para obrigar os políticos a cumprirem o que prometem mas a mudar de orientações com mais frequência pois os eleitores vão mudando de opinião sobre um assunto ao longo do tempo tendo em conta as circunstâncias que também se alteram. Os políticos em campanha têm tendência a viverem num mundo anti-paralelo e prometem coisas que são perfeitamente impossíveis. Quase que prometem que a chuva vai cair na hora e dias desejados por cada um de nós e que fará sol quando desejarmos ir à praia. Como por exemplo aumento de despesas sem a correspondente criação de receita e sem mexerem em deficites.
Ao contrário do que julgas não tenho uma opinião tão diferente da tua sobre uma série de aspectos só acho que opiniões valem pouco é necessário termos ideias, opiniões fundamentadas e não meros bitaites.
P.S. As notícias que são divulgadas são também um espelho do que somos, os jornalistas não são extraterrestres, se olhares para o gasto nos tempos livres dos portugueses irás encontrar muito mais gente a ver novelas da TVI do que a ler um documento simples da SAER sobre possíveis caminhos para o país ou outro que tal.
Quantas pessoas da zona onde irá estar situado o novo aeroporto de lisboa e o novo campo de tiro que irá substituir o actual já foram consultar os documentos relativos aos mesmos, quantos já pensaram sobre esses dados, quantos deles já se pronunciaram a favor, contra ou com apartes sobre estes assuntos ou outros quaisquer. Quantas comuns mortais já pensaram sobre os dados da mudança do aeroporto de lisboa actual para fora da cidade, ou a sua manutenção no local.
Quantos dos teus leitores já foram olhar para os investimentos previstos para os próximos anos, quantas pessoas já se debruçaram sobre os mesmos sem a visão do Medina Carreira que não é capaz de articular uma alternativa embora possa apontar todas as asneiras actuais (também são necessárias pessoas que as saibam apontar).
Bi P.S.: Gostei da tua resposta à minha diatribe anterior, mesmo não concordando com o seu conteúdo.
Tri P.S.: Sabes quantos americanos se escapam à presença em júris. Nos filmes parece ser interessante na realidade as pessoas fazem contas, por vezes, contas à própria vida, será que devo fazer parte de um júri num julgamento de alguém acusado de ser membro de uma organização mafiosa... ou só aceito fazer parte de júris de julgamentos de pilha-galinhas... A honra de ser jurado pode passar rapidamente.
Quad P.S. Denunciar o que está mal é bom, propor alternativas é bom desde que estas sejam realmente alternativas exequíveis.
Quintet P.S. Julgo que saibas que só chateio quem prezo e que só discuto com quem acho inteligente, mesmo e principalmente, que tenha opiniões e até ideias (opiniões fundamentadas) diferentes das minhas.
Porra este bitaite já vai muito longo. Já não tenho coragem de o enviar ao My GPS Lost Itself.
9 comentários:
Ola Carlos,
Obrigado pelo teu comentário :o)
Sabes que mais, continuo a achar que os referendos seriam a solução SE criássemos uma lei que obrigasse a classe política a agir de acordo com a vontade da população!
Parece-me que, desta vez, és tu que estás a duvidar que se possa fazer algo para mudar? Duvidas que se consiga motivar a população a participar em referendos?
E se houvesse mesmo a tal lei de que falo onde se ganhasse a confiança das pessoas para elas saberem que a opinião delas conta realmente? Isso sim seria algo lindo e louvável!
Também é verdade que as pessoas se esquivam por cá ao trabalho de júri (pelo menos, isso é o que vejo nos filmes já que ainda não tive oportunidade de o discutir com ninguém)!
Mas falo do meu próprio ponto de vista sobre a situação e acho isso espectacular! ;o) Quem me dera poder participar a esse ponto nas leis do meu país...isso sim é ter opinião e ser valorizado!
Para terminar, falaste das pessoas não se importarem a aceder à informação mas...será que a informação está realmente acessível?
É preciso ter em conta a escolaridade e o tipo de pessoas que fazem a maior parte da população.
Continuo a achar que há uma cultura de desinformação para nos controlar...
Abraco!
Luis
Muito boa resposta. Concordo com tudo o que dizes.
Cafonso, concordo em quase tudo contigo (e ai entra a parte boa da democracia). Não concordo que os referendos sejam a solução, mas tabém não me parece que não sirvam para nada pois, como sempre ouvi dizer, o povo manda, e se ao final de 2 ou 3 referendos nenhuma das medidas referendadas tivessem sido tomadas, então o povo exigia, e acredita que não foi assim à tão poucos anos que o povo veio para a rua reclamar e as coisas mudaram (recordo-me pelo menos de que estive em algumas manifs onde o slogan era "Leite não é joventude" e que as medidas foram canceladas).
O que é preciso realmente é uma classe politica menos viciada... pessoas mais "limpas" com mais consciência politico-económica e menos taxodependente e em que os favores valem mais que os valores...
coolzerotas
Normalmente não publico comentários de anónimos ou quase.
Acho algo estranho que concorde com a generalidade daquilo que digo, pois embora não seja o «Prof. Marcelo» que sobre um assunto é capaz de ter 10 opiniões diferentes, sobre algumas das minhas afirmações tenho algumas dúvidas quer de conteúdo quer de tom, ou seja tenho mais do que 1 opinião por por vezes essas opiniões são algo contraditórias.
O Luis coloca-me uma pergunta «Duvidas que se consiga motivar a população a participar em referendos?» Agora estou algo pessimista. Um ambiente plebiscitário é mais aceitável quanto maior for o esclarecimento de que decide e num país de baixa escolaridade tal não me parece o meio mais adequado de aplicar os desejos da população à vida pública.
Normalmente não encontro respostas simples para problemas complexos e nisso estou longe do Luís.
Luís,
Acho que a informação não está acessível, por exemplo para uma pessoa ter a noção de quanto a Assembleia da Republica gasta comparando ano a ano é necessário anda aos papeis de cada relatório sendo que há anos em que é necessário ler dois.
Também acho que a maior parte da população não liga, não se preocupa em saber mais, só se preocupa com o que recebe no final do mês, por muito pouco que seja. Isso e dizer mal dos políticos e das chefias.
Não sei que raio de lei poderia ser criada para obrigar os políticos a agir de acordo com a votação da população de forma sistemática, a própria vontade da população é algo volátil é aliás essa a razão que leva aos sistema de representação e não aos sistemas de democracia directa.
Sabes o ter estado, mesmo que por pouco tempo, num território que mesmo elegalmente teve um período de justiça dita popular leva-me a pensar duas vezes (e mais meia) em regimes de democracia directa ou democracia plebiscitária.
Quanto às pessoas «safarem-se» de serviço como jurados basta não serem eleitores, algo que nos EUA é perfeitamente legal como sabes.
Escolaridade das pessoas, eu sou daqueles que não ache que basta ter escolaridade para se ser superior intelectualmente a outro, conheço muita gente com baixa escolaridade que é relativamente inteligente e muito curiosa, com vontade de aprender e com garra.
Fico feliz por ainda não teres desistido de pensar este rectângulo...
Quanto a opiniões já disse anteriormente que para mim (mesmo as minhas) estão muito lá embaixo na minha escala de valores.
Tomos,
O proponente dos referendos como solução dos problemas foi o Luís, tenho dúvidas como disse e repeti em comentário anterior.
Quanto a políticos menos viciados e mais limpos vou contar uma estória:
Há uns anos apareceu um partido PRD, que teve sucesso imediato. Quando perdeu votos e dinheiro os poucos membros que sobraram trataram de arranjar alguém que pagasse as dividas existentes e esse partido de pessoas impolutas foi "vendido" a ditos neonazis.
Quanto a manifestações mudarem orientações algumas poderam fazê-lo mas nem sempre pelas boas razões. Lembro da manifestação promovida pelos camionistas que praticamente deixou o governo de cóqueras, mas a sua cedência terá sido vantajosa para o país como um todo?
Atencao que o meu comentario sobre "baixa escolaridade" foi generalista mas nao tinha esse sentido!
Sou o primeiro a dizer que nao e um curso superior que faz alguem inteligente! Alias, sou completamente contra o sistema de ensino (em Portugal e em todos os paises que conheco)...
Apenas quis chamar a atencao para o facto de, estatisticamente, nao termos uma populacao muito instruida (pronto, acho que instrucao se enquadra um pouco melhor no que queria dizer)! :o)
p.s. claro que nao desisti do rectangulo! quem me dera a mim ter motivos de orgulho e que fosse um pais prospero!
ja o disse e volto a dizer: se um dia Portugal se revolucionar e passar a ser um sitio de referencia serei o primeiro a bater palmas aos que por ai ficaram e admitirei que fiz mal em sair.
Hugz,
Luis
onde se lê elegalmente deve ler-se ilegalmente
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